quarta-feira, 8 de novembro de 2006

QUANDO ABRI A BORDA DA CONCHA....



QUANDO ABRI A BORDA DA CONCHA




Possuo amigos.. algo de bom, deveras bom.. ser escutado é uma parcela da existência rota e vagabunda de todo escritor. Por um lado amado e por outro amaldiçoado...ou será alma dissociado.? Eternamente mal encarado.. Descarado!
Foi assim.. resolvi sair do casulo onde guardava a mente estúpida entre dedos ao molho campanha e decidi: É agora ou nunca. Não tenho papas na língua e vomito prazeres ou delírios, não guardo pensamentos em vão.
Jogo na vida, nas páginas pretas que passeiam virtualmente a espera de manchetes sangrentas que o povo aguarda roendo unhas.... Onde estão as notícias trágicas? Quem morreu? Onde aconteceu o tiroteio da última avenida manchada de sangue onde moscas e bactérias transitam em fome absoluta?
Saí do lar em perfeita harmonia...aconchegante... onde a boca enorme mamava azul ondas deslizantes de dias coloridos abraçado a mãe natureza. Eu a pérola expelida.
Caminhei arrastando dedos estúpidos no ritmo da maré e cheguei ao asfalto onde percebi o primeiro tiroteio..
Era a maré! Não ... não a minha onda que sobe e desce em ritmo cardíaco... era o sangue desfeito em pólvora.
Era o cheiro fétido da morte alisando minha cabeça. Era a gosma que sobrou.. era a dor.
Perfurada alma docemente azul que dentro de mim criou-se, eu vi com estes olhos que comem estrelas sorridentes, os corpos estendidos na poça da vida.. na fome, na miséria humana... nas mãos armadas.. nos ratos que passeavam por entre vísceras e fuzis....
Vi que o mundo não parecia o lar-pérola azul-negritude....
O lar era a briga de gangues, era a necessidade de poder, eram notas e notas de dinheiro ensangüentado, era o desejo mórbido de comer algum pedaço de coração humano..era o pseudo existir nas línguas do fogo cruzado era matar! Matar! Matar..
Engoli a lágrima escorrida, lambi meu beiço na voracidade do desejo...desceu a lágrima sal doce, que aportou a garganta e fizemos sexo... Eu, a lágrima e a cama desfeita de meu ser. Ali no silêncio da garganta entrei em transe....nossos corações batendo no desespero selvagem dos prazeres...






RJ- 08/11/2006
** Gaivota **


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Um comentário:

Anônimo disse...

Vou dizer: gostei mais deste. Senti uma leve, levíssima mudança, mas ficou mais limpo, mais conciso, entendi melhor. Li numa fluência mais gostosa que a anterior ;) Acredite. Deveras bom! Tu aprende consigo, eu aprendo comigo, nos aprendemos com o tempo e com a vida que nos permeia. Abraços poéticos, my friend.