sábado, 30 de dezembro de 2006

QUANDO O RELÓGIO CONTA HORAS


QUANDO O RELÓGIO CONTA HORAS
(virada para o novo ano)




Na rua ouço gritos desconexos...
A plenos pulmões palavras vomitam cabeças e gastam respirações des sacralizadas.
No ar o dia dormiu o cochilo esfumaçado..
O tempo passa pingando horas em contagem regressiva de doer!
É sempre assim..
A coisa aperta quando vira o copo do ano.
Traz outro diz o rapaz da mesa ao lado.
Respiro fundo..
Sinto a dor do ano que se vai carregando mortos e vivos nos telejornais contando desgraças.
Respiro fundo..
Não sei bem o que espero..
Espero algo bom como a cereja verão esmagada entre meus dentes,
o sabor escorrendo goela abaixo,
pintando um vermelho amor, doce como beijo nos olhos.
Não sei bem o que desejar..
Tenho receio de gastar palavras e não encontrar as respostas que preciso..
Todo mundo vai beber!
Os hálitos misturados em torpor, cansando o dia que entra e nem bate a porta.
Não pede licença, apenas senta.
Tenho medo..
De quê? Faço-me esta pergunta..lendo pedaços de jornais violentados, queimados, rasgados..
Mesmo assim, tomo banho, pego meu sorriso e carrego meu sonho que comigo caminha de mãos dadas.


RJ – 30/12/2006
** Gaivota **


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segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

ONDE CANTAM OS PÁSSAROS







ONDE CANTAM OS PÁSSAROS?




Amor meu..
Onde cantam os pássaros
que hoje
suspiram?


Cantam letras
na diagonal
de teus ouvidos..
Bicam tua mente
no sonho
que dormiu
e era pura
pérola.


Beijam
o colo desnudo
de teus desejos..


Amor meu
ouve a música que
agora dorme
embaixo
de mistérios
implícitos,
porque o dia
sempre acorda
dentro de teus
pensamentos.





RJ – 20/10/2006
** Gaivota **


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domingo, 10 de dezembro de 2006

TERMÔMETRO DE AUTO ESTIMA


Munch - Vampyr, 1893



TERMÔMETRO DE AUTO ESTIMA



Decidida Fanny saíra com intenções inescrupulosas escritas na testa...
Colocou o vestido bege com decote proposital pensando:“ Hoje eu como!”
Prendeu os cabelos lisos disfarçando desleixo, calçou sandálias fáceis de serem retiradas e se desse já sairia sem as calcinhas. Era uma gata no cio.
O som gritava além de seus ouvidos, mas afinal escutar era o que ela menos queria.
A bunda redonda se esfregava, quase a massageá-lo. Ereção... Ela precisava medir a capacidade de seu poder. No cheiro forte da erva que exalava, difícil era descobrir o que mais roçava....bunda, peitos, boca, língua, corpo. O cara ali servia como termômetro de sua auto estima. Com propósitos específicos...Usou, jogou fora.
Sabia-se ainda jovem, bonita mesmo tendo ultrapassado a marca dos trinta. Era uma beleza madura beirando os quarenta. Mantinha com esforço o corpo esguio. Alta, magra, cabelos lisos...cheirava aparente liberdade. Na verdade tudo nela era aparente, incluindo-se a suposta alegria.
Iludia-se na inútil sensação de ser única!
Dentro, um buraco arranhava com garras qualquer grama de felicidade, a falta era desproporcional a qualquer medida e Fanny, sequer sabia o porquê! Sentia o coração espetando, como se recebesse a cada instante, pequenas estocadas que o fazia sangrar. Era uma dor intermitente, mas pensar nela? Ah! Isso não se permitiria. Sofrer era uma palavra riscada de seu vocabulário interno. Preferia ser mulher fácil.. Fácil mesmo! Dessas que todo mundo pega. Prazer? Ora.. Prazer é ouvir palavras mentirosas, que soam como açúcar mesmo no fogo alto. Queimam, mas eu desligo antes.... Puxo um fumo, bebo aguardente.. Puro álcool.. que importa...
Quando se permitia era exatamente isto que pensava...
Ria às gargalhadas e rebolava a bunda no falo pensando: Sou gostosa... Gostosa!
A medida de sua felicidade estava no número de olhares a tocar seu corpo... Dizia pra si mesma: Dou e daí? É meu, dou mesmo!
Fanny dava diariamente uma carne putrefata, nem sabor, pois que estava no freezer com tempero congelado, com alho esturricado e depois que ia ao micro, muitas vezes estava insossa e esverdeada...
Iludia-se com a garrafa à mão dizendo: Quem quer sabor? Importa é que pareço...



RJ – 10/12/2006
** Gaivota **

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

NO BATON VERMELHO DA VIDA..



NO BATON VERMELHO DA VIDA


Palavras molhadas
choraram sob o brilho que o lampião exalava.
Assisti ao tremor,
era 3.7 na escala..
O frio congelava
tristezas antes
faceiras,
iludidas de que a vida
passa baton vermelho
e sorri em beijos
ar dentes..
Não passa..
Só desgraça..
O fogo da retina
estuprada,
assassina o azul da água
lacrimada e
a tristeza
dorme com frio
sob o lampião vazio
de chamas negreiras.
Ouço estampidos
de balas perdidas..
Acordo o
bocejo dolorido da noite
sofrida,
abro a cortina,
vou ao banheiro,
despejo toda angustia
noturna.
Acorrento pesadelos
na cama silenciosa.




Poema em parceria, ** Gaivota **&Alex Sens
03/12/2006

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