segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

PINTANDO O AZUL DE VERMELHO




Em vôo nublado,
pássaro desgovernado
atingiu,
ao meio o
temporal.
Que fazias pássaro,
em solitário vôo?

Pingos incandescentes
rompiam o céu,
na dança
louca das luzes.
Chorava o mar,
agonia desesperada.
Chorava o céu,
a tristeza da vida
morta!


Jazia o pássaro, com
bico rubro de sangue,
escorrido, de seu dorso
aberto.
Solto, entre a pedra
que amava, pulsava
o pequeno coração.


Ouvia ainda a
dor da pedra-amante,
ouvia o mar,
esfaqueado em sinfonia.


Ouvia Bach
onde um dia,
contou estrelas,
ouvia o mar
ali na noite escura,
pintando o azul de vermelho.


Cristalizou-se o pássaro,
na pedra que
tanto amou.


Julho- 2005


** Gaivota **

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da poesia, quanto à foto se for ligada à poesia, eu a vejo pela noite...talvez uma imagem com efeitos...mas a poesia é quase uma triste e linda canção ..uma vida inteira solidificada num espaço mais escuro pois fez-se noite em um viver.. assim sinto.

Abraços.. *quase não estou on-line, mas volto sempre que puder **Sol LK

Unknown disse...

O azul para mim é a cor da morte, da eternidade e da cristalização. Do estar parado. Do ser cruel. Do cheiro de morte.
Vermelho é o sangue, é a vida, é a mudança, é o vôo e a caça, é a vibração e o movimento. O ferimento, não a crueldade. O cheiro do nascimento, da comida. A procriação e o sexo.

Teu poema está lindo. O vôo do pássaro morrendo, mas ele parece viver com sua morte.
A foto não poderia ser melhor para o poema gaivota!